quinta-feira, 13 de agosto de 2009

REPORTAGEM DA ZERO HORA DE PORTO ALEGRE

27 de julho de 2009 | N° 16044

OPINIÃOSHOW

Duas noites de garufa

Projeto Café de los Maestros trouxe à Capital grandes ídolos do tango

No fim de semana mais frio do ano, Porto Alegre se vestiu de gala para celebrar alguns dos mais veteranos mestres do tango. Se no entanto a apresentação de sábado no Teatro do Bourbon Country teve seus ingressos praticamente esgotados, na sessão extra de sexta-feira, no mesmo espaço, pouco mais da metade dos assentos estavam ocupados.

Não deixa de ser curioso observar que a cidade que superlota repetidamente o show para turista ver Uma Noite em Buenos Aires não tenha conseguido encher duas vezes o teatro para ver um dos projetos mais significativos do gênero nos últimos anos. Ou os ingressos, entre R$ 30 (promocionais) e R$ 300, estavam caros demais, ou os porto-alegrenses amantes do tango imaginaram ser fácil haver outra oportunidade para assistir a Juan Carlos Godoy, 86 anos, emprestando voz e alma a uma performance inesquecível de La Mariposa, Nina Miranda, 83, cantando apaixonada e brilhantemente Maula, ou o violonista Aníbal Arias, 87, e o bandoneonista Osvaldo Montes, 75, duelando com uma precisão espantosa em Milonga de Mis Amores.

Cafe de los Maestros, o espetáculo, manteve o clima celebratório e nostálgico de Cafe de los Maestros, o filme, exibido recentemente na capital gaúcha. Com uma sensível diferença: se o documentário dirigido pelo estreante Miguel Kohan buscava um sentido emocional para cada plano exibido, sacrificando inclusive informações biográficas básicas sobre quem eram aqueles velhos mestres (maestros, em espanhol, também tem esta denotação), no palco até um apresentador local foi chamado (Kledir Ramil) para ler textos curtos contextualizando canções, cantores e músicos que se revezavam em cena.

Quando Fernando Suárez Paz, 67, apareceu em frente à orquestra, o espectador já sabia se tratar do violinista que acompanhou Horacio Salgán, Aníbal Troilo e Osvaldo Berlingieri e que foi solista do quinteto do revolucionário Astor Piazzolla nas décadas de 1970 e 1980. Quando o pianista Osvaldo Requena, 78, puxou La Bordona, quem estava na plateia já havia sido informado de que este era um dos clássicos de Emilio Balcarce eternizados por Osvaldo Pugliese, um dos maiores maestros das orquestras populares dos anos 1940 e 1950. Talvez por ter sido concebido para correr o mundo depois do lançamento e da repercussão do filme  e também do CD e do DVD do show original, no teatro portenho Colón , o espetáculo incorporou um didatismo do qual muitos haviam sentido falta anteriormente, incluindo a crítica cinematográfica de fora da Argentina.

Cafe de los Maestros chegou a Porto Alegre desfalcado de muitos dos mestres reunidos originalmente pelo músico do Bajofondo Tango Club e genial compositor de trilhas sonoras Gustavo Santaolalla. Além dos seis citados, também esteve no Bourbon Country o bandoneonista Miguel Angel Varvello  caçula da turma, com 67 anos, ele solou no velho tango-canção Griseta, datado de 1924. Aliás, a despeito do propósito do projeto de Santaolalla ser a reunião de cantores, instrumentistas e músicas dos grandes grupos das décadas de 1940 e 1950, talvez os melhores momentos do show tenham se dado quando a volta no tempo foi ainda maior: além das três canções mencionadas na abertura deste texto, quando Godoy, Nina, Arias e Montes, já no fim da noite, relembraram La Cumparsita (1924), Garufa (1927) e Por Una Cabeza (1935). Inesquecível.

TEXTO : DANIEL FEIX
FOTO : TADEU VILANI

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